Surto do Vírus hMPV na China: Uma Nova Pandemia no Horizonte?
Especialistas garantem que o risco de pandemia do hMPV é baixo e a população já possui imunidade.

Surto do Vírus hMPV na China: Uma Nova Pandemia no Horizonte?
O surto do metapneumovírus humano (hMPV) na China levantou preocupações globais, com paralelos sendo feitos ao coronavírus, mas especialistas afirmam que o cenário é diferente, já que a população possui imunidade ao hMPV.
O hMPV, identificado pela primeira vez em 2001, causa sintomas similares a resfriados, afetando principalmente crianças, idosos e imunocomprometidos. A transmissão ocorre por gotículas respiratórias, e não existem vacinas específicas para o vírus. Medidas de higiene e vacinação contra Covid-19 e gripe são recomendadas.
Resumo
Nas últimas semanas, a disseminação de notícias sobre o surto do vírus metapneumovírus humano (hMPV) na China tem gerado apreensão global. Diante de paralelos traçados com o surgimento do coronavírus, muitos temem que o hMPV possa desencadear a próxima pandemia. Contudo, tal cenário não se configura tão apocalíptico como inicialmente se imagina.
O hMPV não é uma novidade para a comunidade médica. O vírus foi identificado pela primeira vez em 2001, embora haja evidências de que já circulava há décadas entre nós (Van den Hoogen et al., 2001). Este patógeno é um dos principais responsáveis pelos sintomas de resfriados e síndromes gripais que enfrentamos anualmente, afetando sobretudo crianças, idosos e pessoas com imunidade comprometida, conforme explica o infectologista Leonardo Weissman, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas.
O hMPV, monitorado pelo Ministério da Saúde há anos, é transmitido por secreções respiratórias de pessoas infectadas, espalhando-se por gotículas de saliva liberadas ao tossir, espirrar ou falar. Adicionalmente, o contato direto com secreções respiratórias contaminadas, seja tocando superfícies infectadas ou levando as mãos ao rosto, pode igualmente disseminar o vírus.
Marcelo Gomes, coordenador-geral de Vigilância de Vírus Respiratórios do Ministério da Saúde, enfatiza a importância de manter a vacinação contra a Covid-19 e a gripe em dia como estratégia preventiva.
"O uso de máscaras por pessoas com sintomas gripais e resfriados contribui para reduzir a transmissão de todos os vírus respiratórios, incluindo o metapneumovírus." Marcelo Gomes - MS
A adoção de medidas simples, como lavar as mãos regularmente, evitar tocar o rosto, cobrir a boca ao tossir ou espirrar, limpar superfícies compartilhadas e evitar contato próximo com indivíduos doentes, também são eficazes na prevenção do hMPV e de outras doenças respiratórias. Grupos de risco, como crianças, idosos e pessoas com imunidade reduzida, devem redobrar os cuidados.
"O metapneumovírus humano é um vírus bem conhecido. Diferentemente do coronavírus, que surgiu de um animal e encontrou uma população sem imunidade prévia, resultando em quadros graves, já possuímos uma resposta imune ao hMPV," aponta o médico Marcelo Otsuka, coordenador do comitê de infectologia pediátrica da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI). Ele ressalta que, teoricamente, não há risco de disseminação de quadros graves como os da Covid-19, dada a existência de imunidade na população.
Na terça-feira (7/1), a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou que o surto de hMPV na China está dentro do esperado para o período de inverno no hemisfério norte.
Segundo comunicado da OMS à imprensa, "O hMPV é um vírus respiratório comum. Apesar de alguns casos necessitarem de hospitalização devido a bronquites ou pneumonias, a maioria das pessoas infectadas apresenta sintomas respiratórios leves, semelhantes aos de um resfriado, com recuperação em poucos dias."
A organização está em contato com as autoridades de saúde chinesas, não tendo recebido informações de padrões incomuns de surtos. O governo chinês também informa que seu sistema de saúde não está sobrecarregado e que o país não se encontra em uma emergência de saúde pública.
Weissmann considera o risco de pandemia baixo em comparação com outros vírus já conhecidos, como o influenza e o SARS-CoV-2. "É preciso estar atento, mas não há motivos para pânico," enfatiza. "O hMPV nos recorda que, embora a Covid-19 tenha concentrado a atenção nos últimos anos, há diversos outros vírus em circulação que exigem nossa vigilância," alerta o especialista.
A doença causada pelo hMPV apresenta sintomas bastante similares aos do vírus sincicial respiratório e do resfriado comum, o que pode dificultar seu diagnóstico preciso.
Além do período de inverno, quando as baixas temperaturas ressecam as vias respiratórias e a tendência é de que as pessoas se aglomerem em ambientes fechados, outros fatores explicam o aumento de casos na China.
Durante a pandemia, a população chinesa adotou medidas rigorosas de isolamento social e uso de máscaras, o que reduziu o contato com diversos vírus, incluindo o hMPV. Isso afetou especialmente as crianças pequenas, que não desenvolveram imunidade por falta de exposição. "Agora que a rotina se normalizou, esses vírus circulam com mais intensidade, encontrando indivíduos com imunidade reduzida. Essa condição cria o cenário perfeito para o aumento de casos, como vemos atualmente com o hMPV," explica Weissmann.
Em suma, o surto de hMPV na China, apesar de gerar preocupação, não indica uma emergência de saúde pública tão grave quanto se temia inicialmente. O vírus é um velho conhecido e a população, em grande parte, já possui uma certa resposta imune a ele. As medidas preventivas, já bem estabelecidas para outras doenças respiratórias, são cruciais para minimizar a disseminação do hMPV. É essencial manter-se vigilante, mas sem cair no pânico. A história da medicina nos mostra a importância da contínua observação e da ciência na gestão de crises de saúde pública.